quarta-feira, 31 de março de 2010

Bastidores de Estudio




Gosto de gravar à noite. Clima à meia luz. A ante- sala do estúdio tem paredes amarelas nas laterais e ao fundo uma parede de tijolinhos que me inspira paz. Estou tranqüila por incrível que pareça. Vejo o Neuman U87 e fico ansiosa pra soltar a voz nas estradas. Vamos gravar a primeira musica “Diamante”.
Canto várias vezes e o Lucas e Tiago começam a ter divergencias. Sinto que daqui a pouco ta todo mundo se mordendo. Já nao fico mais calma.
Ficam horas discutindo e eu sempre acho uma chatice esses diálogos de músicos. Gosto de praticidade.

Chega a hora de gravar uma música tradicional celta, a meu pedido. Explico aos meninos que quando ouço essa música parece que minha alma dança. Que o arranjo dela tem que ser de coração aberto. Leve. É engraçado ficar explicando como eu quero pros meninos. Eles entendem tudo de musica; mas os dois estão ali parados, prestando atenção no que eu falo.

Minha maneira de falar é sempre em tom muito baixo.

Bom, chega a hora de gravar a musica tradicional celta e eu digo:



- Vamos tocando...eu não vou mudar o jeito de cantar, aí vocês fazem em cima o que vocês acharem que tem que ser, depois a gente vê o que é! Vamos fazer um outro caminho, não vamos todo mundo junto. Vem vocês atrás de mim agora.



No final, Lucas expressou: “Pô, é muito bonita!” e depois de uma longa pausa diz: “Você melhora muito as coisas, caramba”. Fico imensamente tímida. E com medo da próxima gravação.



Muitos tem curiosidade de saber como vou vestida na gravação. A maioria me vê só em shows, arrumada ou em longo, ou com meus pretinhos básicos pela vida noturna em Sampa. Sei, porque indagam com olhares pensantes, como seria a Jandra numa padaria, visitando a vovó ou mesmo num estúdio ensaiando.



Nesse dia eu estava normal. Calça jeans, uma blusinha de frente unica branca, mas sempre de salto alto (isso nunca dispenso). O cabelo preso totalmente, e óculos obrigatoriamente.



Gosto muito de me concentrar. Enquanto o Lucas não pára de falar um minuto e de se agitar, eu fico quieta.



Nesse dia ele foi me mostrar um canal que é o over de bateria , e tava parecendo um tijolo e mostrou que teve muito erro do Tiago, que se defendeu dizendo que a energia foi muito boa.



Bom, a musica MUDEI DE TOM e MAS NÃO É não foi gravada no Midas. Foram gravadas no Estúdios Guidon quase que como uma brincadeira. Queria mostras com MAS NÃO É que sabia cantar rock e ficou no mínimo exótico. Só foi uma explosão de raiva, queria apenas dar um recado. E dei.



Todo Azul do Mar foi gravado durante a gravação de um DVD num evento corporativo. Esse merece um capítulo especial que falarei em outro momento.

Na música Anjos, composta especialmente pensando na banda Archanjjos, perguntei se a nota contínua era durante a canção inteira ou só na parte do vocalize. Lucas, sabiamente disse: “ a gente deve testar na canção inteira pra tê-la, mas a gente não precisa fazer com que você grave em todos os canais a canção inteira. A gente precisa do seu pulmão, entendeu?”



Gravei algumas vezes o vocalize e sempre me sinto insegura. Acho que muda a harmonia e que to numa nota que não cabe mais. Parece que eu estou pescando. Lucas sorri e diz: Mas pesque! Vc ta pescando altos peixes. É só acompanhar a harmonia. É difícil.”



Mas a insegurança continua. Não gosto da minha voz, do que ouço solo. Gravamos várias vezes. Eu totalmente insegura. Até hoje fico tensa ao ouvi-la pronta.



A música “FIM” foi feita depois do termino de uma relacionamento. Escrevi a letra quase que num desabafo, querendo colocar um ponto final na historia. Um ponto final com música, já que começou com música.



Lucas, quando foi desenvolver a harmonia, disse que tentou trazer um pouco mais de leveza pra ela. Na hora eu ri e disse que tive uma sensação oposta. Pois ela é densa.



Entramos num acordo e fui gravar. Quase sussurei. Doeu dizer que to indo embora.



Adoro tomar vinho nas gravaçoes. Não sei falar de termos técnicos, mas sei o que quero e muitas vezes indico o caminho. Sou insegura, acho estúdio gelado, não combina comigo.



No palco não tenho medo de nada, sou inteira ali. Nas gravações tenho paúra de cantar sem acompanhamento nenhum. Porque é super arriscado, a gente começa num tom e termina noutro sem nem perceber! Mas disseram que é normal, outros artistas passam pela mesma coisa.
Missão cumprida. Música, amor e trabalho. Momento único e particular. Gravações onde transformei dor em arte. E agora sigo...com nossos planos todos incertos...e pronta pra outra!




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